Entre as cidades baianas que não são atendidas pelas grandes empresas de transporte por aplicativo, Luís Eduardo Magalhães (LEM), no oeste do estado, se destaca por uma particularidade inusitada. Há pelo menos 4 anos, o município, que possui pouco mais de 107 mil habitantes e é um dos principais polos do agronegócio na Bahia, tem em operação o próprio serviço de transporte por aplicativo.
Um negócio que começou em meio à pandemia de Covid-19, em 2020, para suprir a necessidade da população naquele momento, e que se expandiu nos últimos anos, conforme detalhou a Superintendência de Trânsito da cidade (Sutrans).
Atualmente, cinco plataformas são registradas no órgão, que é responsável por fiscalizar a atividade dessas empresas. Destas, quatro são exclusivas da cidade: MOBLEM, City LEM, Ubilem e Bora LEM. A Ubiz Car opera também em Barreiras, na mesma região do estado.
Ao todo, 204 motoristas e pilotos são cadastrados nos cinco aplicativos que rodam na região. Destes, 148 oferecem o transporte com carros e 56 com motocicletas, cobrindo os mais de 4 mil metros quadrados de território municipal.
Operando por aplicativos de celular disponíveis para download gratuito, da mesma forma que outras grandes empresas (como Uber e 99, por exemplo), essas plataformas oferecem um serviço parecido, como explica a Sutrans.
O passageiro informa onde está e para onde vai, vê o valor cobrado pelo transporte e aciona o atendimento, sendo transportado pelo condutor mais próximo e disponível. Uma rotina que tem melhorado a mobilidade urbana do município.
Foi com essa proposta que nasceu o MOBLEM. Hoje, além de ter sede em Luís Eduardo Magalhães, o aplicativo está presente em outras 11 cidades de 4 estados, e tem mais de 500 motoristas parceiros e 300 mil clientes.
"Chegávamos nas rodoviárias, ou em deslocamento na cidade, e não tínhamos opção de forma digital, só existiam os táxis e, às vezes, muito caros. Tendo em vista essa necessidade surgiu a ideia de um aplicativo eficiente para o interior de cidades de 30 até 250 mil habitantes", detalhou o CEO da MOBLEM, Ronni Peterson.
De acordo com o representante, o diferencial do aplicativo para outros, é o contato direto da plataforma com os motoristas e clientes de cada cidade. "Cada uma tem seu gestor local, que conhece todas as circunstâncias da cidade e consegue solucionar problemas rapidamente. Por essa proximidade, conseguimos nos destacar dos aplicativos nacionais, que não dão atenção nenhuma para motoristas e nem muito menos aos usuários".
O CEO conta que, com essa proposta, do início da operação até a atualidade, eles têm conseguido fazer do aplicativo uma ferramenta ainda mais sólida e eficaz. "Conseguimos resolver qualquer problema rapidamente. Temos um canal aberto com nossos usuários para reclamações e sugestões e realmente ouvimos eles. Hoje percebemos que fazemos parte do cotidiano da cidade, somos parte desse processo do oeste da Bahia".
Ronni pontuou que a meta é crescer ainda mais, com qualidade, levando o serviço para quem mais precisa. "Somos gratos a todos os nossos parceiros e usuários. Todos são fundamentais para o processo. Acreditamos que os apps regionais são o futuro da mobilidade, pois realmente se importam com a qualidade do serviço prestado".
De acordo com o professor Armando Branco, que é arquiteto e urbanista com especialização em planejamento de transportes, a operação dessas plataformas reflete uma necessidade da população pelo serviço em LEM, como é conhecida a cidade entre os moradores.
Apesar de não ter o público de grandes municípios, como a capital Salvador, Luís Eduardo Magalhães possui uma população consideravelmente grande, ocupando o 17º lugar no ranking das cidades baianas com mais habitantes.
Para o especialista, a procura pelo atendimento se justifica nos problemas comumente encontrados nos serviços públicos de transporte. No entanto, como o interior normalmente não é rentável para grandes empresas, há uma oportunidade para plataformas locais.
"Havendo rentabilidade importa ter os serviços. Para esses usuários com maior poder de renda, este uso pode ser rotineiro ou esporádico. De qualquer forma, se observa que o desgaste no trânsito tem transferido usuários para o modal aplicativo/táxis, assim como o envelhecimento/enfermidades de camadas com melhor perfil de renda vem fortalecendo o uso. Isto é coerente e deve existir nas cidades", pontua Armando Branco.
No entanto, o arquiteto e urbanista defende um transporte público de qualidade para que essa procura não seja tão grande e não acabe prejudicando outros setores da cidade, como o trânsito.
"Há que exigir sempre a melhoria dos serviços públicos de transportes, senão as vias ficarão cada vez intransitáveis, como corolário da ineficiência na mobilidade, como demonstram congestionamentos e retenções nos horários de picos", diz.